Capeia Arraiana Lageosa da Raia
Data: 06-AGO-2024
«A capeia raiana é, sem dúvida, o ex-libris da zona da raia do concelho do Sabugal.
Desde tempos imemoráveis que a grande paixão de miúdos e graúdos, de ricos e pobres,
sobretudo dos homens mas também de muitas mulheres, se centra no dia da capeia da
sua aldeia natal. (…)
É na Lageosa que se abre, na raia, a temporada das capeias de agosto, que se prolongará,
depois, por todo esse mês. (…) a primeira da época oficial, a primeira de agosto, é a
nossa e, certamente por isso, é ela a que, por norma, tem maior afluência. (…)
Os responsáveis pela organização de todo o processo da capeia chamam-se mordomos.
(…)
O redondel era fechado com carros carregados de lenha, e cada qual se encarregava do
seu. (…) estes carros eram dispostos, organizadamente, circundando o aidro, para que o
largo fronteiriço à igreja ficasse fechado, formando assim um redondel. (…)
O forcão é um instrumento triangular construído em madeira. É o elemento
diferenciador das capeias da raia (…)
O encerro é uma parte essencial e indissociável da capeia (…) o acto de confinar ou
fechar o gado dentro de um curral (…)
Terminado o encerro, com os bois acomodados dentro do “curral concelho”, os cavalos
atados fora da praça, nalguma tenada ou curral, estava tudo a postos para se dar início
ao prólogo da capeia: o boi da prova! (…) Para se aquilatar da qualidade do curro que,
durante a tarde, irá proporcionar as emoções mais fortes, tem de se lidar o chamado boi
da prova. (…)
Para que a capeia se possa realizar carece de autorização, concedida por uma autoridade
competente para o efeito. É a habitual cerimónia do pedir da praça! Trata-se, afinal, de
um ritual em que, no caso da Lageosa, os mordomos vão montados a cavalo muito bem
adornados, seguidos por um cortejo de rapazes munidos de varapaus ou alabardas. (…)
Num repente, qual furacão embravecido, sai um boi preto, não muito grande mas,
aparentemente com muita casta. Fita o forcão e, sem se fazer rogado, avança para a
galha direita, onde está um dos mordomos. A marrada é tremenda e todo o forcão
estremece com o forte impacto. Mas não esmorece o mordomo à galha, nem qualquer
outro. Bem pelo contrário, animados com esta primeira investida, são eles que avançam,
afrontando e desafiando o boi para novas arremetidas. (…)
Os bois e respectivos cabrestos, após terem cumprido, e bem, com a sua quota-parte na
festa taurina, teriam de ser devolvidos às suas origens. (…) Com o desencerro, acaba
um sonho que perdurou durante um ano. Este sonho terminou mas, mal este termina, já
começa outro. Para o ano há mais! Esta capeia vai embora, para o ano outra virá! E é
assim que, ano após ano, ao longo de muitos anos, este sonho que comanda a vida se
tem mantido vivo e, como se espera e deseja, assim irá continuar. (…)
O dia 6 de Agosto, para todos os Lageosenses ou patucos (…) é um marco no seu
calendário. Este dia, para muitos, representa o fim de um ano e início de outro. É aquele
dia pelo qual se espera durante um ano inteiro. Aquela data em que, acabada a capeia e
feito o desencerro, se fica, ansiosamente, à espera durante mais 365 dias. (…)
Extraído do livro de Zé Manel Patana, Lageosa da Raia e as suas Capeias - Muitos
anos de histórias e emoções, Castelo Branco, RVJ – Editores, 2013